Poder é uma palavra muito forte. É ter a possibilidade ou direito a algo. É ter probabilidade, ou faculdade, ou autorização para executar determinado assunto. É dispor de autoridade, vigor, domínio e capacidade física e moral. Poder é deliberar, agir e mandar. Poder é a conquista da autoridade constituída do governo de um país. Poder é força.
“Deu-se o nome de líder à pessoa que se reveste de poder. A pessoa que pensa primeiro, e pensa melhor, o que outros deviam pensar. A pessoa que pensa em nome de outros. Que responde em nome de outros. Que decide e age em nome de outros. Que consegue autorização para fazer tudo isto… e representa.”
Ser líder é um destaque, é elegante e, quase sempre, uma prioridade. É como se fosse superior, seja lá onde houver mais de uma pessoa. Em família, na escola, na festa, na prática de qualquer esporte, como no campo de futebol. Como o jogador que sabe o momento de pegar a bola, sair com ela e ser acompanhado por todos os outros, que concordam com ele. Assim é o dono de uma liderança espontânea. Não exige. Faz acontecer. Ninguém lhe explicitou uma autorização, mas concorda com ele. Gosta do que ele faz.
Falam os pesquisadores e representantes de organismos internacionais que o Brasil é um país líder em desigualdades. Que não promove a distribuição de rendas humanitariamente. Que alimenta o crescimento de um pequeno grupo de pessoas já poderosas. Que permite as necessidades da grande massa populacional e não cumpre o dever de, sequer, vê-la padecendo à margem da sociedade. Que não pune os malfeitores, delinquentes e usurpadores da nação porque, tanto quanto estes, abriga em seu seio grandes exemplos de malversação de nossos mais sagrados princípios de cidadania.
São muito diversos e diferentes os interesses das pessoas que integram uma sociedade. Isso é natural. A sociedade é um complexo de imensurável heterogeneidade de itens que a compõem. Qualquer deles, subtraído ou excluído, faz falta. Percebemos, logo de início, a importância de nosso direito fundamental de ir e vir. O aluno que vai de casa à escola. O operário que se desloca para o lugar de trabalho. A dona de casa que vai às compras. O cliente bancário que vai cuidar de sua movimentação financeira. A família que sai para passear. Todos precisamos ir e, normalmente, devemos e desejamos voltar.
Nosso comportamento em comunidades é normatizado por escritas a que chamam de leis. Elaboradas por pessoas que nos representam. Líderes nossos. Do tipo que faz tudo por nós, sem nos ouvir. Sem nos consultar. Quase que geralmente, sem nos agradar. Não expressam gestos de qualquer espontaneidade. Ao contrário, exprimem a força. Exigem. Obrigam. Impõem. Fazem como o jogador de futebol que, vendo a galera jogar e chutar alegre, corta a bola. Acaba com o jogo. São os que hoje fazem escritas em forma de leis, dizendo que podemos ir, mas não nos asseguram o direito de voltar. Se, indefesos, vamos às ruas, praticamos a imprudência de enfrentamentos inteiramente desiguais. Oferecemos nossa integridade física a desordeiros que repetitivamente, sem falar, nos dizem que já não podemos ir e se formos talvez não devamos voltar. Nossos líderes aprovaram a negação do direito de ir e vir.
Nossos atuais líderes não projetam quaisquer atos de espontaneidade. Não apresentam qualquer ideia que embale a população. Não se sensibilizam com as nossas dificuldades. Só revelam a força. E nós somos fracos. Precisamos, inteligentemente, reconhecer isto. Jamais poderemos vencê-los. Então, para felicidade e alegria geral de nossa população, curvemo-nos frente às pessoas que estão escrevendo o que dizem ser leis. E prestemos obediência a eles. Eles querem fazer o que estão fazendo e não temos força para impedí-los. Deixemo-los lá. Eles são a lei deles mesmos.
Paralelamente, vamos escolher outras pessoas que se identifiquem com a população. Que nos ouçam antes de escrever as leis. Que estejam, como todos nós, vivendo a dificuldade de ir sem saber se podem voltar. Que estejam sendo roubadas, sem roubar. Que estejam sendo assaltadas sem assaltar. Que estejam sendo estupradas sem estuprar. Que estejam sendo matadas sem matar. Pessoas que, como toda a população, ajam com espontaneidade e, como no futebol, joguem e chutem a mesma bola que todo mundo chuta.
Façamos isto. Deixemos aquilo que eles mesmos chamam a si de congresso, continuar lá. Formemos outro congresso legislador. Esta é a nossa única e ultima solução: MAIS UM.
Haroldo Gumes”
(Fonte do texto: grupo Yahoo Macaúbas, fotos acrescidas por Macaúbas On Off)
Prof. Haroldo Gumes, é escritor e recentemente esteve em Genebra, Suíça, lançando internacional de um dos seus livros: “O Tamanho da Felicidade”…