Foto: Maurício Chaves.
Saga do verme pensante.
A seca se arrasta entre os galhos tórridos de caatinga de porco, mendigando uma gota d’agua.
Andarilhos perambulam feito folhas secas pelas capoeiras ressecadas.
É tudo tão cinza, sou capaz de sentir o cheiro da semente da umburana bailando no ar ao sabor do vento.
O sol do meio dia anuncia.
Os primeiros corpos começam a tombar.
É o mês de agosto.
A cacimba fica mais funda.
Tal qual o olho do animal que à procura em busca da água da vida.
Trêmulo, esquelético, mal se sustenta sobre as finas pernas.
Sob o sol abrasador, o inerte corpo é acolhido pelo solo.
Solo estéril.
Derradeiro suspiro.
Vaga errante pelos caminhos tortuosos da morte
Baila a rainha da morte ao som da ladainha derradeira.
Maurício Chaves.
(Fonte do texto e da foto: www.vermeseespinhos.blogspot.com)
Somos Vermes e/ou Espinhos?…
Parece que o poeta tenta arrancar do Sol piedade: somos Vermes…
Parece que o poeta indigna-se com a cacimba mais funda: somos Espinhos...
Parece que o poeta percebe o último suspiro, a morte: somos Assassinos/Suicidas?
Mas não parece, a seca “industrializada” pelo Sistema – é um meio prático de manter…
Mas não parece, deveríamos estar acostumados com a dor – é o Sofrimento…
Mas não parece, mas nossa derradeira ladainha – é a Morte?
É certa… A morte sem ou com desculpas…
É certo… Andamos para ela…
É certa… A vida, pós morte? Ou seremos apenas vermes, por sermos aqui espinhos?