* Por Irlando Oliveira
Podemos traduzir o termo inglês bullying como sendo um ataque frequente, sistemático, a quem quer que seja, quer de natureza física e/ou psicológica. Toda e qualquer brincadeira, quando direcionada a alguém, de forma sadia e lúdica, é aceitável e até muito bem-vinda, já que tal acontecimento faz parte das relações interpessoais, tão necessárias e importantes para o convívio social. Agora, quando a “brincadeira” passa a causar incômodo e desconforto, é preciso parar; darmos um basta, pois a sua continuidade pode causar sérios prejuízos a quem é direcionada, principalmente quando se trata de criança e adolescente, devido ao fato de estarem em processo de formatação do seu caráter e da sua personalidade, dentre outros fatores.
Eventos de bullying sempre existiram, apenas recentemente é que foram estudados e teorizados. Nos últimos anos, um chamou-nos atenção, diante do trágico acontecimento. O “palco” foi a Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo – Rio de Janeiro, no dia 07/04/2011, através do qual Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, ex-aluno do referido estabelecimento de ensino, o invadiu, armado com dois revólveres, e começou a disparar contra os alunos presentes, matando doze deles, com idade entre 13 e 16 anos, e deixando mais de treze feridos, cometendo logo após o suicídio, ante a presença da polícia. Estima-se que ele tenha disparado 66 tiros. Este fato teve tanta repercussão no cenário nacional que foi sancionada a Lei 13.277/16, que institui o dia 7 de abril como Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola.
Após analisada a tragédia do Realengo, constatou-se que Wellington fora vítima de bullying naquela escola. Ora, como o bullying a que fora submetido pode tê-lo levado à prática dos crimes? Como pode ter partido para o desforço depois de tanto tempo? Certamente, o bullying a ele direcionado, ainda quando discente daquela escola, o incomodou por demais, o impactando psicologicamente a ponto de, quiçá, desequilibrar-se, levando-o a um transtorno psicótico, por assim dizer, ensejando os crimes por ele perpetrados.
Sabemos, perfeitamente, que nenhum de nós gosta de ser humilhado, debochado, vilipendiado e escarnecido! Quando alguém nos faz um elogio, nos respeita e nos considera, ficamos demasiadamente satisfeitos e felizes! Isso “massageia” o nosso ego! Como costumamos falar em nossas palestras, ninguém há que tenha tido a oportunidade de pedir ao Criador para vir ao mundo de uma ou de outra forma! Daí essa mescla e heterogeneidade de biotipos: uns gordos, outros magros; uns altos, outros nem tanto; uns de pele escura, outros de pele clara; cabelos lisos, cabelos crespos; olhos pretos, castanhos, azuis, verdes…
Todos nós nos apresentamos na vida com os atributos e os traços fisiológicos que nos são próprios para o nosso desenvolvimento e evolução espiritual! Desta forma, quem somos nós para criticarmos quem quer que seja! Quando apontamos o dedo indicador sinalizando o “defeito” de alguém, esquecemos que sempre teremos três dedos nossos apontando também para nós! Isso equivale dizer que temos mais “defeitos” do que a outra pessoa. Mas normalmente enxergamos o “defeito” alheio! Somos iguais! Tais noções precisam ser discutidas no seio da família – como célula máter da sociedade -, como forma de despertarmos nos nossos filhos este entendimento, e concorrermos para uma sensível diminuição de eventos de bullying, os quais têm trazidos sérios danos às sociedades, na escola e fora dela!
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* Irlando Lino Magalhães Oliveira é Oficial da Polícia Militar da Bahia, no posto de Major do QOPM, atual Comandante da 46ª CIPM/Livramento de Nossa Senhora, e Especialista em Gestão da Segurança Pública e Direitos Humanos.