Blog do Alécio Brandão

Especialista em Ortopedia Pediátrica opera criança com Pé Torto Congênito.

image1O médico Dr. Nilton Francisco Cotrim de Brito, especialista em Ortopedia Pediátrica, que também atende na Clinica IRM, é uma das maiores autoridades em ortopedia pediátrica da Bahia, recentemente fez uma rara e complexa cirurgia numa criança de alguns anos de vida, com um problema ortopédico conhecido como Pé Torno Congênito ou seja, a criança já nasceu com a deformidade.  Dr. Nilton, é natural de Igaporã, atende também em Salvador.

Conheça melhor este grave problema que pode marcar a vida de uma pessoa para sempre se não for corrido a tempo por um especialista.

O que é o Pé Torto Congênito 

É na verdade um desalinhamento congênito dos ossos e articulações associado com contraturas. e tem as seguintes Epidemiologias:

– 2:1 masculino:feminino

– 0,93 a 1,5 por 1000 brancos / 0,6 por 1000 orientais / 6,8 por 1000 em polinésios, havainos e maoris. em caucasianos 1,2 por 1000. 4,9 por 1000 em havaianos puros ou mestiços.

– 50% bilateral. Nos casos unilaterais Direito mais que E.

– freqüência é 17 X maior em parentes de 1º grau que na pop em geral.

– Gene dominante com penetrância reduzida ou herança multifatorial (Wynne-Davis)

Patogênese:

– Fatores genéticos. – lesão muscular primária. – deformidade óssea primária (defeito do plasma germinativo) – lesão vascular primária

-infecção enteroviral intrauterina. – interrupção do desenvolvimento – lesão nervosa primária – inserção anormal do tendão, fibrose com retração.  – histologia anormal. – Fatores mecânicos intrautrinos, defeito neuromuscular, parada do desenvolvimento fetal, defeito do plasma germinativo.

image4Quadro clínico

– Equino da parte posterior do pé, varo subtalar, cavo (flexão plantar da parte anterior sobre sua parte posterior) e aduto da parte anterior sobre a média.

– pé e perna afetados em forma de bastão.

– gravidade variável de um pé para outro nos casos bilaterais.

– prega cutânea posterior (simples ou dupla)

– prega cutânea transversal atravessa o arco longitudinal.

– avaliação de torção tibial em um neonato não é confiável.

– cabeça do tálus no aspecto dorsolateral da parte média/posterior do pé, imediatamente anterior à articulação do tornozelo.

– pé e panturrilha menores que o contralateral.

– A tíbia é curta em 89% e o fêmur em 43% das cças com deformidade unilateral acompanhada de DISCREPÂNCIA

– é necessário exame físico completo para descartar causas neurológicas e sindromicas para a deformidade.

– avaliar a coluna e fazer exame muscular.

Diagnóstico diferencial: – Ausencia ou hipoplasia da tíbia. – luxação congênita do quadril – pé torto paralítico (mmc, tumores intraespinhais, diastematomielia, poliomielite, tipo distal de atrofia muscular progressiva, PC e Guillain-Barré).

Sindromes associadas a pé torto. – artrogripose – Displasia de Streeter – nanismo diastrófico – Freeman-Sheldon – Larsen  e Síndrome de Möebius.

Aspectos radiográficos.

– no lactente centro de ossificação do talo, calcâneo, cubóide (com 1 mês) são visíveis. Assim como MTT e falanges.

– AP obtida com o pé pressionado contra a placa radiográfica com uma força de dorsiflexão e rotação externa (coloca subtalar em sua posição mais corrigida).

– Lateral: com o pé em máxima dorsiflexão e eversão e rotação interna.

– Nas duas incidências deve-se medir Talo-calcaneo e talo 1º mtt.

– ultrassonografia pode dx o PTC por volta 16ª a 20ª semana.

– Valores normais

– no AP = T-C = 20 a 50 graus.

Talo-1º MTT= 0 a -20 graus.

Talo-5º mtt = 0

-no P = T-C= 25 a 50 graus

Tibiotalar = 70 a 100 graus    (90 graus)

Tibiocalcaneana (dorsiflexão Max) = 25 a 60 graus

image3Anatomia patológica.

– colo do talus curto e desviado plantar e medialmente com relação ao corpo.

– rotação externa do talus controversa mais recente em estudo por TC = RE.

– deformidade vara do calcâneo (situada entre a faceta media e anterior), criando uma inclinação medial de sua superfície articular na calcaneacuboidea.

– articulação talocalcaneonavicular = acetabulum pedis (Scarpa), pés acetabulum (Sarrafian). (posteiror do navicular, faceta media e anterior do calcâneo e cabeça do tálus).

– eixo de rotação parece estar no talocalcâneo interósseo.

– calcâneo tem rotação inferior e interna, resultando num alinhamento paralelo com o tálus nos planos frontal e sagital.

– parte posterior do calcâneo amarrada a fíbula pelo fibulocalcaneo.

– estruturas retesadas: fascia plantar, músculos plantares curtos, ligamento mola, tendão de Aquiles, tibial posterior, flexor longo do hálux e flexor longo dos dedos, cápsula posterior do tnz e subtalar.

– navicular e calcâneo desviados medial e plantar em torno do tálus.

– cuboide desviado medialmente sobre o calcâneo.

– Ângulo de declinação do tálus = eixo longitudinal da cabeça e o colo com eixo longitudinal do corpo = nl 150 a 160º. No PTC = 115º a 135º.

– seio do tarso alargado.

– o talus é o mais alterado dos ossos.

– navicular tem forma normal.

– Tálus inclina-se para fora do encaixe do tnz, expondo 1/3 a ¼ da sua superfície articular.

– As contraturas dos tecidos moles, na ordem de importância como obstáculos à redução da articulação talocalcaneonavicular:

1- ligamento mola.

2-ligamento tibionavicular (lig deltóide sup)

3- parte superior, medial e inferior da cápsula talo navicular.

4- tibial posterior.

5 –nó mestre de Henry.

6- ligamento calcâneo fibular

7-retináculo fibular superior.

8- ligamento talocalcaneano posterior.

9- cápsula posterior da tíbio talar

10- Aquiles

11-ligamento interosseo

Classificação

– idiopática: cças nls nos demais aspectos, e não desaparece sem tratamento intensivo.

– postural: desaparece com manipulação ou com um ou 2 aparelhos de gesso (ausência de rigidez e ausência de eqüino)

– neurogênico: observado na mielomeningocele.

– sindrômico observado em crianças com outras anormalidades.

Tratamento.

– Objetivo: pé plantígrado, flexível e indolor.

– tratamento inicial é Conservador. (correção total ou parcial para diminuir a cirurgia)

– Padrão de excelência = Ponseti (gesso longo):

– 1º raio é dorsiflexionado (estica fascia plantar e destrava a talonavicular)

– parte anterior do pé abduzida (a parte posterior pode ser evertida pela subtalar em torno do tálus-calcâneo everte).

– após correção de todas as deformidades, após conseguir 70º abdução, parte posterior do pé é submetida à dorsiflexão ao mesmo tempo que evita-se a dorsiflexão anterior do pé: objetivo 15º dorsiflexão .

Tratamento cirúrgicos:

– Turco: incisão medial para liberação postero-medial. Subtalar aberta como um livro. Acompanhamento: era freqüente valgo do retrope e rotação interna do pé.

– Goldner:premissa é a rotação interna do tálus, exige alongamento do ligamento deltóide. A aubtalar não é submetida a liberação circunferencial.

-Carrol: necessidade da liberação circunferencial da subtalar, tem que manter ligamento talocalcaneo interosseo, se possível. Acreditava na rotação externa do tálus.

– Simons: liberação total de subtalar, ligamento talocalcaneointerosseo e calcaneocuboidea.

– McKay modificado: liberação extensa póstero-medial e póstero-lateral – libera tendão calcâneo medial alongando-o em Z 2,5cm, libera lig calcâneo-fibuar, libera lig talo-calc lat, libera caps lat talo-calc, alonga tendão tib post em Z 2,5cm, abre art talo-nav através da porção talo-nav do lig deltóide sup e lig mola, libera lig bifurcado, se necesário libera porção post lig deltóide prof, se necessário libera lig talo-calc interósseo, estabilize com FK. Pós-op: gesso longo em eqüino por 2sem, gesso longo neutro por mais 4sem, retira FK com 6sem, retira gesso com 10-12sem

Há cirurgias tudo ou nada e a La carte. 

Incisão : cincinatti (Crowford-circunferencial) e Carroll (dupla)

-necessidade de outra cirurgia = 5 a 50%,depois da 1ª.

Pos-operatório

-não Cirúrgico: na técnica de Ponseti: após tenotomia colocada bota gessada com pé 10-15 graus de dorsiflexão e completar gesso ate a coxa com joelho 90º e deixar por 3 semanas. Ponseti preconiza orteses (Dennis-Browne) ou sapatos adaptados para os pés ou o pé em RE de 70º e dorsiflexão 15º 24hs/d/3 meses e depois mais 1 ou dois anos de ortese no período noturno.

– Cirúrgico: em geral: tal 2 semanas -> retira sutura -> bota gessada -> retirar FK com 6 a 8 semanas -> retirar bota com 4meses traçando a cada 4- 6  semanas.

Complicações

– deformidade em cadeira de balanço

– esmagamento do anlage cartilaginoso

– esfacelamento do coxim do calcanhar (incisão de Cincinati)

-varo residual do retropé

-aduto do antepé: + freq

-supercorreção

-joanete dorsal (desiquilibrio entre TA e filulares longo e terceiro – 50%)

Referências Bibliográficas e Literárias:  – (Lovell e Winter / Tachjian / Sizinio / Campbell / Artigo do Ponseti). 

 


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