Por algum tempo no ano de 2009, o Prof. Ático se dedicava a escrever crônicas para um site de uma rádio de São José do Rio Preto/SP (Melodia Web), que entre outras programações transmitia ao vivo sessões espíritas, bem como mantinha um espaço literário para crônicas de diversos autores intitulada Janela Cultural. Há alguns anos o Prof. Ático reuniu todas estas crônicas num total de 47 textos, tratando de diversos temas e presenteou alguns amigos. Um projeto que será apresentado à direção da Fundação Cultural Prof. Mota para que estas crônicas sejam transformadas num livro em sua memória, o qual poderá ser vendido e assim arrecadar fundos para a manutenção de seus projetos.
É certo que em sua residência, que será transformada no Memorial da Casa Viva, há em seus arquivos alguns rascunhos, alguns quase prontos de livros inéditos, um que ele vinha trabalho há mais de duas décadas é o Dicionário de Gírias, segundo ele o maior do mundo e outro de tema interessante e sempre atual é sobre corrupção, desde o Brasil Colônia (que nunca deixou de ser), até a “contemporânea malandragem” dos dias de ontem e de hoje… Estas são as “heranças” mais valiosas do Prof. Ático, a transferência de seu saber, inteligência, sensibilidade cultural, traduzidas em palavras, crônicas, poesias e livros… Um verdadeiro “ourives da palavra“… É nosso dever resgatar a Ourivesaria Prof. Ático, abrindo, mantendo e fomentando o seu “Calvário” e lá instalando o Memorial da Casa Viva… Para que seja lá, um garimpo de portas abertas como ele sempre desejou!…
E para lembrar o segundo mês de sua transferência de Plano Espiritual, nada melhor lembrar o exemplo de cidadão que o Professor Ático é.. É em respeito as suas concepções Espíritas, pois sua alma desvinculou de sua matéria, mas – não de nós ou de muitos de nós entre todos, não!..
Cidadania! Cidadania! Cidadania! Que é isso?
*Prof. Ático Mota, em 14 de fevereiro de 2009…
“Não sei se todos os meus caros leitores já observaram que existem algumas palavras, frases e conceitos que nascem, vivem e, por vários motivos, vão morrendo aos poucos.
Os mais resistentes são os provérbios, cuja gênese se apóia diretamente na velha experiência. Contudo, existem termos, quando ainda em pleno vigor, que se apresentam como ruidosos refrãos. Neste caso, em nossos dias, temos o vocábulo cidadania, verdadeira coqueluche! Virou uma irresistível moda na imprensa falada e escrita! Será que todos aqueles que usam e abusam deste nome já meditaram profunda e seriamente a respeito de sua origem, evolução e, sobretudo, sobre a sua prática efetiva em nossos conturbados dias? Pelo contrário: acredito que, não raras vezes, brincam muito com ele… A remota origem do conceito de cidadania liga-se evidentemente à cosmovisão política oriunda das cidades-estados, herança cultural do universo greco-romano. Trata-se de uma palavra bastante antiga e demasiadamente séria. Juristas brasileiros – e de outros países – já esmiuçaram o seu significado e respectivos desdobramentos. Dentre eles, destaca-se o saudoso e lúcido professor Plácido e Silva em seu primoroso Vocabulário Jurídico (8ª edição, 1984). “Cidadania – reafirma o jurista – palavra que deriva de cidade, não indica somente a qualidade daquele que habita a cidade, mas mostrando a efetividade dessa residência, o direito político que lhe é conferido para que possa participar de vida política do país em que reside (pág. 427). Ora, a citação refere-se, explicitamente, ao direito político, mas na verdade, a sua abrangência é muito maior, pois também se-refere, portanto, a outros deveres, isto é, ao seu necessário alcance político-social. Aliás, insiste-se muito, no Brasil, no binômio enfatizante Direitos e Deveres. Na matemática, há uma afirmação axiomática: “a ordem dos fatores não altera o produto”. Mas, talvez no campo da psicologia coletiva, devêssemos alterar esta ordem para a seguinte: Deveres e Direitos, a fim de que, cada cidadão de per si, sobretudo num país em via de desenvolvimento, procurasse, mediante a sua atuação diária, apoiar-se primeiramente no cumprimento de seus deveres e assim fazer jus depois aos seus direitos. Este último ordenamento é primordial, pois ele iria efetivamente condicionar o próprio subconsciente coletivo. E direi ainda: Como insistir tanto sobre a prática da cidadania sem antes procurar saber como anda o poder judiciário brasileiro? A imprensa diária informa-nos, freqüentemente, que a situação dele não é das melhores, embora possa contar com magistrados capazes e funcionários dedicados. Os incapazes, relapsos, desonestos e desinteressados deviam ser inibidos ou afastados e, no último caso, reeducados. Em suma: deve-se premiar e enaltecer a legião dos bons e alijar e exorcizar os maus. Deve-se separar o joio do trigo. Impossível, volto a repetir: conciliar a crônica morosidade do nosso poder judiciário com a prática da cidadania plena!…” (Grifos nossos)
*11/10/1928… +26/03/2016… 26/05/2016…